COMO UM FILHO PRÓDIGO
Sem parcimónia, elas aí está de volta, esplendorosa como sempre, a nossa velha e conhecida CRISE.
Dizem que a situação de Portugal e dos portugueses só se resolve com optimismo, dinamismo, produtividade e melhor qualificação destes arrastados cidadãos.
Nenhum de nós, mesmo que em juízo imperfeito, deixará de questionar-se sobre as razões de tão pesado castigo.
Se as condições necessárias para a promoção do progresso do nosso país estão contidas naqueles quatro adjectivos, que se colaram a nós como lapas e não desgrudam há 34 anos, é-nos legitimo perguntar por e para quem estamos a ser governados?
È quase insultuoso que nos peçam optimismo, quando, procuram sistematicamente desobrigar uma minoria e aferroam a maioria sacrificada.
Frequentemente ouvimos arautos da competência e um circo de políticos que entram casa adentro, numa espécie de apanhados, que procuram fazer-nos crer que os agentes políticos devem ser melhor remunerados a bem da eficiência e da credibilidade.
A maioria deles já passou pelos corredores do poder, aí planificaram as suas vidas e zarparam para recolher os dividendos de tão mourisco trabalho de gabinete.
Nas televisões, comentadores sábios e avisados apresentam-nos um cardápio de iguarias que, manipuladas por hábeis mãos e cabeças limpas, jogam em todos os tabuleiros e num espasmo piedoso condóiem-se dos seus irmãos engaiolados pela pobreza e pelas desigualdades, mas sempre vão avisando que os governos não podem fazer mais.
Até o Presidente da República diz alto e bom som: a crise é grave, mas as soluções são difíceis.
Não será caso para perguntar o que é que eles andam a fazer há trinta e quatro anos? Alguns responderão que não é há 34 mas sim há alguns mais!...
Gostava de acreditar, mas confesso o meu cepticismo, nas palavras do Primeiro Ministro ditas no Parlamento e que nos garantem que o Serviço Nacional de Saúde se manterá universal e tendencialmente gratuito.
É que não falta para aí quem entenda que o optimismo e a qualificação se conseguem através do condicionamento do acesso à educação, mormente utilizando um perigoso eufemismo chamado de discriminação positiva.
Outro tanto acontece no tocante à saúde, como ouvimos alguns dos candidatos à liderança do Partido Social Democrata, sem esquecer-mos a famigerada ideia do plafonamento dos descontos para a Segurança Social.
Este acto generoso daqueles que não conhecem a palavra nem os efeitos da crise, veja-se o caso dos grupos parlamentares para quem qualquer momento é bom para passear pelas ilhas, independentemente de quanto custa e de quem paga, a ser levado adiante, resultará numa educação e saúde para pobres e outra para os ricos do sistema.
É hoje evidente que esses afortunados da sorte e do sistema, não frequentam as escolas públicas nem o serviço nacional de saúde.
O truque reside em reduzir os direitos do cidadão comum, aquilo a que chamam de estado social, bastando elaborar uma tabela de preços de acordo com os rendimentos de cada um.
Os de maior rendimento seriam taxados de forma exemplar, sem dúvida, os outros pagariam naturalmente menos, embora mais alguma coisinha comparativamente com o tendencialmente gratuito.
Moral da história; como os ricos não põem lá os pés, quem é que pagava os custos da nova moda? Hã!...
Mas haverá alguém (estrangeiros) interessado em investir num país que paga salários miseráveis, onde se chama desqualificados aos seus trabalhadores, onde se aniquila as suas expectativas de vida através duma discriminação sanguessuga?
Para quê tanta auto estrada, tantos pavilhões, tantas rotundas, tantos jardins, tantas estações, tantos mercados, enfim… tantas obras de fachada de custos incalculáveis sem qualquer efeito produtivo? Abram alas ao TGV e ao novo aeroporto!...
Olhar hoje a Avenida dos Aliados no Porto é ter a sensação de estar perante um crime contra a sociedade e os seus direitos de cidadania, um crime contra a natureza. Custou milhões… Quem é ou são os responsáveis? E quem paga aquela m…?