UNS ENGORDAM, OUTROS EMAGRECEM
No Serviço Nacional de Saúde e no que ao doente respeita, assistimos ultimamente a mais umas quantas particularidades do sistema, que me leva a concluir que cada um de nós que utiliza o SNS, ou não é atendido porque a terapêutica é de custo elevado ou, noutros casos, paga duas vezes.
Foi notícia recentemente que uma criança de 10 anos foi submetida a uma invulgar intervenção cirúrgica no Hospital de S. João no Porto, com vista a aliviar os efeitos ou a curar uma doença de nome DISTONIA.
Ao difundir-se a notícia deste caso raro, acrescentou-se um dado que, pela sua relevância e porque certamente não é caso único, logo se procurou informar (ou avisar) que a intervenção tem um custo de cerca 30.000 euros.
Como nestas coisas já me habituaram a ler nas entrelinhas, deduzo que outros que padeçam desta enfermidade, contem com uma lista de espera de 10 anos..., se chegarem até lá.., porque o Serviço Nacional de Saúde só trata de doenças de baixo custo,… pelo que, não seria má ideia procurarem o sector privado.
Pelo que nos diz a ministra da saúde, os hospitais públicos irão concorrer com os privados na resolução do problema das endémicas listas de espera.
Fá-lo-ão, porque é sabido que as capacidade técnicas e humanas dos hospitais públicos estão longe de estar esgotadas.
O que é estranho nesta chamada dos hospitais públicos é que, utilizando os mesmos meios técnicos e humanos que deixaram engrossar as listas de espera ao longo dos anos, sejam agora suficientes, a troco de pagamento extra, para resolver tão grave problema e que tanto sofrimento e morte tem causado a muitos portugueses.
Veja-se o caso de oftalmologia que, porque um autarca deu nas vistas quando resolveu levar a Cuba 120 munícipes para intervenção às cataratas, caiu o Carmo e a trindade e o hospital da cruz vermelha já contratualizou com os nossos impostos 2900 intervenções cirúrgicas.
Enquanto isto, uma vez mais os nossos impostos pagam principescamente nos hospitais públicos para não se fazer nada, ou por outra, fazem-se listas de espera que depois são convencionadas com os mesmos, mas já no sector privado.
O mesmo se passa com as chamadas Unidades de Saúde Familiares, que, perante a eminência de não se atingirem os objectivos que deram corpo e interesse à sua criação, atira-se com mais dinheiro do povo para pagamento extra a médicos, enfermeiros e administrativos, por forma a aliciá-los para o projecto. Convirá entretanto não perdermos de vista que esta remuneração extra é um segundo imposto, porquanto eles já são pagos para trabalharem nas suas áreas de actividade (médico, enfermeiro ou administrativo).
Também aqui se pergunta: porque é que os Centros de Saúde já não servem? Afinal, cria-se uma estrutura paralela, as mais das vezes com pessoal, todo ele, vindo dos centros de saúde!...
O argumento mais ouvido é que, com o novo sistema, todos os doentes terão médico de família. Aceitando-se embora, seria útil compreender porque razão nos centros de saúde não há médico de família para todos, se os médicos que dão corpo às USF são exactamente os mesmos que exerciam nos centros de saúde?
Ou será que esta necessidade de criação das Unidades de Saúde Familiares, acrescidas de uma ambulância SIV (suporte imediato de vida), não serão pronuncio ou garantia do fecho dos SAP,s?.
Há duas coisas que são imorais, a saber: pagar duas vezes o trabalho para o qual alguém que foi contratado (com um salário) e a mentira (sempre bem intencionada).
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