segunda-feira, dezembro 03, 2007

VIVER

Hoje, 24 de Novembro de 2007, bateu-me forte o afinco de continuar vivo, afastando para longe ou para a sua oportunidade o momento da morte.
Não devemos permitir que a morte nos convide antes de tempo, basta que para isso saibamos dar espaço ao pensamento e abrir alas à luta que sempre nos anima e rejuvenesce.
Compreendi rapidamente a razão do sustento desta vontade de continuar a luta e da particularidade deste dia, nada mais que os longos 45 anos que me separam fisicamente da mais proeminente referência da minha existência.
È neste estado de consciência que devemos dar sentido à vida, já que são incontornáveis as limitações que à maioria são impostas, galvanizando-nos para conquistarmos e assumirmos o bem divino com que somos dotados; a força de cada indivíduo traduzida em actos e ideias, em suma, a inteligência que todos os dias nos ressuscita para a vida.
“A punição corresponde à culpa:
ser privado de todo o prazer de viver,
ser elevado ao mais alto grau de tédio da vida. (Soren Kierkgaard)”
Assim e para que a vida continue, para além das habituais pequenas encenações e espectáculos, de e para os mesmos, façamos do inconformismo um hino à intolerância, única forma de sentirmos o efeito da nossa voz, porque, no dia em que formos tolerados é mau sinal, estaremos perante a tal morte prematura e inglória.
“O insucesso e a ignorância combatem-se com muito trabalho
e com procura incessantes do conhecimento e compreensão.
(Guilherme O Martins)”
Quanto ao insucesso e à ignorância, permito-me questionar, quem esteve ou está disposto a fazer esse trabalho? O insucesso e a ignorância são armas fundamentais de poder, logo: deixem-me dormir… dirão.
Quanto à compreensão, cheira-me a mais um gesto de tipo paternalista, que, na órbita da tolerância, prefiro que não me compreendam.

Depois de muito barulho e promessas de quererem cumprir fielmente as funções de predestinados, os magistrados e os juízes, invocam, a propósito de uma hipotética intenção do governo de os integrar na função pública, a sua inevitável perda de independência perante o poder político.
Eu digo predestinados porque se convenceram, a bem da nação, que são independentes. Ora, na minha opinião, quando alguém fala de independência como um facto insofismável, como pretendem os magistrados e juízes, estão desde logo a negar a natureza das coisas.
Para além de ser óbvio que essa treta da independência é uma figura de retórica pouco inteligente e séria, acresce que as práticas que todos nós vamos mais ou menos conhecendo, põem em causa o sentido e significado restrito do exercício equilibrado e justo das suas decisões.
Quando as corporações se mexem muito, há que desconfiar da esmola.
Afinal, nem sequer foi preciso esperar muito tempo, para percebermos que a tal independência porque se batem, está resolvida e expressa em alterações feitas na Assembleia da República às disposições contidas no orçamento de estado para 2008, que, basicamente, garante que a progressão nas carreiras dos magistrados e juízes, continuarão a reger-se por estatuto próprio.
Daqui se infere, sem grande raciocínio matemático e perante o pormenor da alteração, que a independência que a Constituição consagra e que os do outro poder reclamam, fica garantida com a progressão nas carreiras, como manda o figurino.
Dizei NÃO à tolerância e à compreensão.
O Tribunal de Contas arrasa em relatório as contas do Serviço Nacional de Saúde, adjectivando sem rodeios que há falta de transparência e omissão de importantes verbas que, por si só, deitam por terra qualquer assomo de credibilidade e de boa gestão dos dinheiros públicos.
Mas, pondo de lado a discussão que não tardará, a nós comum dos mortais e que queremos viver, impõe-se que nos expliquem porque razão e à medida que vamos sendo afastados da procura dos serviços de saúde públicos, onerados cada vez mais por cada serviço, espoliados da comparticipação de milhares de medicamentos, vergados a taxas e mais taxas, que razões estarão por detrás deste progressivo endividamento?
Sabemos que as listas de espera são infindáveis; sabemos que se nos quisermos tratar, ou arranjamos cunha ou pagamos ao privado.
Sabemos dos protocolos e contratos que existem entre o SNS e os Privados, naturalmente respeitados quanto a pagamentos.
Sabemos que os hospitais são empresas públicas EPE’s, outrora sociedades anónimas SA’s, donde, a fazer fé no dito relatório, aquilo tem sido um salve-se quem puder. Será que esta gente trata do dinheiro dos contribuintes como o ministro da justiça, encomendando carros em stands sedeados na lua?
Os privados e os semi privados (instituições várias) estarão a cumprir ou só a sorver? E o Estado, não será conivente? Correia de Campos pelo que tem feito ao SNS era suposto que o seu ministério apresentasse resultados com outro equilíbrio!... mas…será que ele está mesmo interessado em reduzir o défice, ou só mudou de agulha?
O caminho escolhido para resolver os problemas da saúde dos portugueses foi o da desresponsabilização. Contrata-se com privados e depois logo se vê. O dinheiro cai... e o exército de indigentes criados por Correia de Campos, que esperam, mas que paguem. De preferência sem bufar.
Pelos vistos o Ministério da Educação contratou os serviços de João Pedroso, irmão do antigo ministro Paulo Pedroso, para que fizesse uma compilação de toda a legislação sobre a educação, comprometendo-se a pagar-lhe 1.500 euros/mês.
Por falta de tempo, de vontade ou por se achar mal pago, a verdade e que João Pedroso não fez o trabalho.
Perante isto, o ministério resolveu encomendar-lhe de novo o trabalho, mas, agora, pagando-lhe 20.000 euros mês.
Digam-me depois que o dinheiro não chega para tudo e que os sacrifícios são necessários em nome do equilíbrio orçamental.
Não quero tolerância nem compreensão, quero ter voz, quero viver.