quinta-feira, maio 24, 2007

Se atentarmos na imprensa, deparamo-nos com um angustiante silêncio, como quem espreita uma oportunidade segura para espreitar pela nêsga e clamar aflitivamente por um pequeno momento de liberdade.
Com tanto barulho à volta do caso vivido pelo professor Charrua na DREN, esquecemo-nos cautelosa e habilidosamente dos milhares de casos semelhantes que as gentes deste País enfrentam diariamente nos seus locais de emprego.
Condicionados pela contratualização do trabalho, poucos são aqueles que ousam assumir a dignidade.
O professor Charrua, antigo deputado pelo PSD, tem notoriamente uma capacidade de intervenção pública e de apelo aos média, pouco comum à maioria dos perseguidos deste País.
Nada disto é novo, sabe-mo-lo todos, basta inteirar-mo-nos sobre o que se passa nos mais variados locais de trabalho e, para início de questão, nas Câmaras Municipais.
O Ministro Mário Lino disse que o Poceirão, local alternativo à localização do aeroporto da OTA, é um deserto.
Caíu o Carmo e a Trindade só porque o homem disse a verdade.
De facto somos como os rebanhos, precisamos de pastores que nos mantenham dentro de um círculo.
Embalados pela conversa de interesseiros militantes que chamam de irresponsável o Ministro, não queremos a verdade. De facto aquilo é um deserto. O ministro tem razão.
Mas o que é o País senão um enorme deserto de seriedade, de ideias, de democracia e de carácter?
Não peçam milagres, forcem a inteligência.

domingo, maio 20, 2007

A UTOPIA E O 25 DE ABRIL

A UTOPIA E O 25 DE ABRIL

Temos muitas vezes a tendência para pensar que com a revolução do longínquo Abril, o nosso país, além de ter mudado algumas hierarquias do topo do Estado, também mudou de Estado. Pior ainda, às vezes caímos na infantil ilusão que Portugal também mudou de povo. Ora, não mudou. E, se o ouro vindo da Europa que sugamos como parasitas, permitiu ao caciquismo as magnanimidade da esmola, construindo estradas e caminhos, redes de saneamento, centros de saúde, pavilhões e piscinas, exposições megalómanas e europeus, a verdade é que estamos hoje mais escravos das suas teias de poder despótico, urdidas com oriental paciência ao longo dos anos, com a conivência criminosa de empreiteiros e da alta finança.
No meio disto tudo alguns partidos são a muleta, casas emprestadas por obrigação. De tal forma a teia corrupta se espelhou, que tomou conta daquilo que anteriormente foram veículos de expressão da democracia e se transformaram num bando de salteadores, cujo único propósito é a perpetuação das suas estruturas mafiosas.
Trinta e três anos depois do 25 de Abril de 1974, que devolveu à sociedade portuguesa a esperança numa sociedade mais justa e igualitária, confrontam-nos hoje com a face oculta do velho fascismo, porventura pela mão dos herdeiros dos ideais republicanos, espalhados pelos concelhos e freguesias de Portugal, em cujas estruturas medra o despotismo, a censura, a perseguição, o totalitarismo, a corrupção, o medo, a ignorância, a manipulação e a mentira.
A liberdade que se deu erradamente como adquirida depois de 1974, nunca esteve tão longe das nossas mãos como hoje.
Que esquerda é esta que esfola o que a direita mata?
Que socialismo é este que se vende por um prato de lentilhas?
Que democracia é esta que gera eleições ganhas à partida, truncadas por uma estrutura totalmente anti democrática em que a única lógica que subsiste é a do poder pelo poder, do silêncio contra a palavra, da corrupção contra a ética?
O 25 de Abril é hoje a outra face da moeda que nos governa numa lógica dual diabólica, a chamada alternância, cujo propósito é a perpetuação da ditadura de que nunca saímos.
E aqueles que neste instante se inflamam contra este aparente exagero, eu pergunto:
Que liberdade julgam que têm para determinar o vosso destino?
Que ilusão é essa em que vivem, cercados de quatros paredes hipotecadas ao Senhor, inebriados por futebóis e folhetins infindáveis onde projectam as suas vidas postiças?
Será Liberdade ou Servidão? E até quando? Até que geração de servos se estenderá esta patética Nação?
Até onde irá a desonra? Até onde irá a cegueira?

Gritemos: Até ao sonho, até ao 25 de Abril de 1974, até à SOLIDÃO

Cabeceiras de Basto, 24 de Abril de 1974

Ilídio dos Santos
BI 0854544
Cabeceiras de Basto