domingo, maio 20, 2007

A UTOPIA E O 25 DE ABRIL

A UTOPIA E O 25 DE ABRIL

Temos muitas vezes a tendência para pensar que com a revolução do longínquo Abril, o nosso país, além de ter mudado algumas hierarquias do topo do Estado, também mudou de Estado. Pior ainda, às vezes caímos na infantil ilusão que Portugal também mudou de povo. Ora, não mudou. E, se o ouro vindo da Europa que sugamos como parasitas, permitiu ao caciquismo as magnanimidade da esmola, construindo estradas e caminhos, redes de saneamento, centros de saúde, pavilhões e piscinas, exposições megalómanas e europeus, a verdade é que estamos hoje mais escravos das suas teias de poder despótico, urdidas com oriental paciência ao longo dos anos, com a conivência criminosa de empreiteiros e da alta finança.
No meio disto tudo alguns partidos são a muleta, casas emprestadas por obrigação. De tal forma a teia corrupta se espelhou, que tomou conta daquilo que anteriormente foram veículos de expressão da democracia e se transformaram num bando de salteadores, cujo único propósito é a perpetuação das suas estruturas mafiosas.
Trinta e três anos depois do 25 de Abril de 1974, que devolveu à sociedade portuguesa a esperança numa sociedade mais justa e igualitária, confrontam-nos hoje com a face oculta do velho fascismo, porventura pela mão dos herdeiros dos ideais republicanos, espalhados pelos concelhos e freguesias de Portugal, em cujas estruturas medra o despotismo, a censura, a perseguição, o totalitarismo, a corrupção, o medo, a ignorância, a manipulação e a mentira.
A liberdade que se deu erradamente como adquirida depois de 1974, nunca esteve tão longe das nossas mãos como hoje.
Que esquerda é esta que esfola o que a direita mata?
Que socialismo é este que se vende por um prato de lentilhas?
Que democracia é esta que gera eleições ganhas à partida, truncadas por uma estrutura totalmente anti democrática em que a única lógica que subsiste é a do poder pelo poder, do silêncio contra a palavra, da corrupção contra a ética?
O 25 de Abril é hoje a outra face da moeda que nos governa numa lógica dual diabólica, a chamada alternância, cujo propósito é a perpetuação da ditadura de que nunca saímos.
E aqueles que neste instante se inflamam contra este aparente exagero, eu pergunto:
Que liberdade julgam que têm para determinar o vosso destino?
Que ilusão é essa em que vivem, cercados de quatros paredes hipotecadas ao Senhor, inebriados por futebóis e folhetins infindáveis onde projectam as suas vidas postiças?
Será Liberdade ou Servidão? E até quando? Até que geração de servos se estenderá esta patética Nação?
Até onde irá a desonra? Até onde irá a cegueira?

Gritemos: Até ao sonho, até ao 25 de Abril de 1974, até à SOLIDÃO

Cabeceiras de Basto, 24 de Abril de 1974

Ilídio dos Santos
BI 0854544
Cabeceiras de Basto