sexta-feira, novembro 20, 2009

ANO NOVO, VIDA VELHA...

Depois de assegurado o controlo do défice, de termos suportado estoicamente a crise nacional e a internacional, assustados e a contas com a gripe A, um novo desígnio patriótico surge no horizonte das nossas obrigações, ou seja, a institucionalização da pobreza.
Os dois milhões de pobres que a sociedade portuguesa fabricou são já uma arma de arremesso nas mãos daqueles que asseguram uma das mais obscenas e desigual distribuição da riqueza produzida.
Com o aproximar do final do ano, ouvimos já a autorizada opinião do Governador do Banco de Portugal sobre a necessidade de contenção salarial. Nada a que não estejamos habituados. É uma coerência que se regista, quer pelo exemplo, quer pela humildade de tão ilustre figura.
Acho que os pobres portugueses deveriam constituir-se em Associação para tratar dos seus direitos e daqueles que certamente engrossarão no médio prazo o contingente.
Até me atrevo a sugerir ADIPP (Associação para o Desenvolvimento e Institucionalização dos Pobres Portugueses).
O Presidente da CIP avisou já, a propósito do escandaloso aumento de 25 euros no salário mínimo nacional, ser incomportável para as empresas arrostar com mais estes custos e que muitas delas correm o risco de irem à falência.
Este pimpão, é mais um dos tais que promove, de forma elegante, convenhamos, para aumentar o peso político e social do lobby dos pobres.
Não sei o que este homem faz…, tirando a circunstância de aparecer constantemente nas televisões e jornais, mas, faz jus à classe que defende ao revelar-se contra o aumento do salário mínimo, sem referir em momento algum o salário máximo.
Diz ainda o Presidente da CIP, a modos que a justificar esta pérola de iniciativa criadora, que só se pode aumentar salários se, simultaneamente, crescer a riqueza produzida.
Fico confuso, confesso, porque por muito que me esforce não consigo descortinar a produção que corresponde aos gestores, desde logo, ele próprio, acompanhado naturalmente pelos infalíveis da Portugal Telecom, da Galp, da EDP etc…. etc…. já que, tanto quanto se conhece, a única coisa que fazem é vender aquilo que outros produzem.
A par disto, o Governo, falando a sério ou a fazer de conta, anunciou a criação de uma comissão com vista a controlar as mordomias de atribuição arbitrária de prémios aos gestores.
Ricardo Salgado, presidente do BES, um dos tais que nada produz, apressou-se a condenar a iniciativa, sob o pretexto de que a atribuição de prémios é assegurada por comissão própria das instituições, neste caso, bancárias.
Estas duas situações tocam-se de forma tão antagónica e esclarecedora que, mais não faz, do que colocar-nos perante a realidade pantanosa, há anos anunciada.
Nesta altura e neste País, já nada desperta o nosso espanto, tal a dimensão da camada lodosa que lhe vai servindo de suporte. Afundamo-nos lentamente, mas de forma sustentada, como eles gostam de dizer.
Apesar dos louváveis esforços do Primeiro Ministro, apelando ao optimismo e verberando o negativismo e a má língua, aves raras… muitas aves raras, teimam em desfazer-lhe sistematicamente o ninho e em transformar este país numa enorme feira de trocas de… amizades.
Vamos voltar ao princípio? Mas será que Portugal ainda tem princípio? Ou o princípio já se confunde com o fim?
Perante este cenário, inalterável há décadas, apetece-me apelar às vítimas do parasitismo e do roubo, tão bem cantadas na INTERNACIONAL.
Aos gentilmente chamados menos radicais, aconselho-os a intensificarem a procura de progenitor ou progenitores para este órfão País. A bancarrota está à porta e vamos ter que ser entregues a uma instituição de acolhimento. Esperemos que seja a União Europeia…

QUO VADIS

São 191 os Presidentes de Câmara que se recandidataram, enquanto, que, cerca de três dezenas, optaram por antecipar a saída e aproveitar o derradeiro gesto gentil de um qualquer funcionário zeloso que lhes abriu a porta pela última vez.
Assim, destas eleições autárquicas, resulta um ganho previsível de todas as recandidaturas, bem como, um sopro suplementar de esperança que a limitação de mandatos nos trouxe.
O poder autárquico foi fundamental para a consolidação do nosso regime democrático.
Porém, o exercício do poder em mandatos sucessivos, roubou-nos o direito à democracia de proximidade e transformou referências democráticas em autênticos atentados à liberdade individual e colectiva.
É perverso que o cidadão sinta como única satisfação a retirar deste acto eleitoral para as autarquias, um dado objectivo - o fim de um ciclo.
Este é o último mandato para quase duas centenas de Edis, que já não são solução nos seus municípios, mas sim um problema sério, consubstanciado em actos de prepotência e discriminação.
Nestes quatro anos que agora começam, muita coisa vai ainda acontecer e é bom que estejamos atentos às manobras daqueles que iniciaram o caminho do ocaso.
O poder e o mando são parecidos com uma doença sarnenta, logo, os jogos de bastidores para os conservar já estão pensados, cumpre-nos estar atentos e denunciá-los.
Muitos dos aspectos visíveis da campanha que terminou nas eleições de 11 de Outubro, indiciam já uma espécie de angústia, só compreensível se houver quem não queira beber pelo copo com que serviu os outros.
Dia 12 de Outubro de 2009, é o primeiro dia de um novo alento democrático. Compete-nos lutar pelos ideais da liberdade e procurar para Cabeceiras os sonegados direito à paz e à convivência cívica.