sexta-feira, setembro 14, 2007

A LUZ DA NATUREZA

- Em tempos, Ludgero Marques pediu o despedimento de 150 000 trabalhadores da função pública. Para lá caminhamos.

- Portugal é o país da União com mais contratos de trabalho a prazo certo. É um “mundo” consequente de trabalhadores contratados.

- Os nossos empresários querem agora virar-se para a prática de contratos de trabalho a termo incerto, conquanto lhes seja garantido uma baixa nos impostos.

- Entretanto vão sugerindo que os trabalhadores possam ser despedidos por motivos políticos ou ideológicos. Rejeitou-se esta ideia, mas falou-se dela…perigoso quanto baste…

- António Mexia, Presidente do Conselho de Gerência da EDP, retirou aos reformados uma prática e uso de 30 anos, cortando-lhes a refeição gratuita. Concordo com a medida, mas… porquê só agora, porquê?...

- Há médicos de família que no exercício das suas obrigações, cobram aos seus doentes nas deslocações ao domicílio, verbas correspondentes a uma visita privada

- Diz Fernando Seara que os políticos chegam à política albergados num T1 e que pouco tempo depois alargam a protecção para um T4. Nunca mais querem sair, são os verdadeiros inimigos dos partidos.


Dei por mim no bulício de animada festa a passar o meu braço em volta de uma árvore, como quem abraça o amigo.

Surreal, foi o momento em que uma cabeça confusa procurava resposta para os porquês desta impunidade colectiva e quase se deixou enlear num diálogo de vivos, eu e a natureza feita árvore.

Assustei-me, reagi perante a sensação de estar a perder a fé humana, submetendo ao arbítrio do vazio aquilo que ao homem pertence.

Criei naqueles instantes uma cumplicidade dolorosa perante a aceitação de um inquestionável bem estar, contido numa mensagem que me transporta par além do real e dá contentamento àquele meu momento.

Pensei nas consequências de me deter a observar o meu estado de alma, da tangível derrocada da obra construída anos a fio, afinal porque escolhi a natureza para ouvir o meu lamento?

Concluo, não sem sentir o frio gélido da desilusão, que o meu habitat há muito deu lugar a novas formas que se afastam decididamente da orla de comprometimentos, que hoje, só mesmo a sábia natureza me garante.

A casca de rugosidade aceitável, tocava os meus dedos de forma imperturbável, enquanto os meus olhos a fitavam na mira de uma reacção à carícia deste suposto velho conhecido.

Hirta e bela, plena de vida na sua copa, subentendi um murmúrio de compaixão perante a fragilidade do meu ser e um sorriso cúmplice que me elevou ao cimo dos seus frágeis ramos e me concedeu a graça de partilhar da sua liberdade - natureza.

A árvore, essa força que cresce quase imparável rumo à luz. Essa luz que é a seiva que nos alimenta e a bússola que deveria orientar-nos.

Procurar a luz é dar espaço à vida, é empreender uma jornada rumo ao conhecimento, é, afinal, crescer sem conta nem tamanho, buscando no exemplo deste elemento da natureza a graça que o homem deve conceder a si próprio, morrer, como diria Palmira Bastos, de pé, como as árvores.