quarta-feira, novembro 19, 2008

EM TEMPOS DE CRISE... MARCHAR

Quem provoca e fomenta o aparecimento das ditaduras são sempre os regimes que se mostram fracos.

O general Loureiro dos Santos, um de entre muitos outros que populam nas Forças Armadas Portuguesas, resolveu ser porta voz do descontentamento dos militares.

Capciosamente, o general, que apelida de madura e estável a democracia portuguesa, admite como possíveis, atitudes reprováveis dos militares, perante aquilo que define como um conjunto de medidas que os governos, sucessivamente, vão tomando em desfavor das forças armadas.

O problema dos generais e genericamente dos militares, reside no facto de a sua natureza castrense entender que as questões da democracia, mormente no que toca aos direitos e deveres dos cidadãos, só são por eles assumidas desde que os sacrifícios se destinem exclusivamente aos outros.

Numa ditadura, os militares são normalmente e basicamente o sustentáculos dos respectivos regimes, sendo certo que, enquanto ela durar, vê-los-emos unidos na repartição dos benefícios, relegando para as profundezas qualquer sacrifício.

Normalmente nas democracias os governos cometem erros que, com o tempo, vão propiciando o ambiente adequado, nomeadamente porque subjugam e esquecem o seu verdadeiro pilar de apoio – o povo - permitindo que forças ocultas, apareçam e aproveitem o desencanto que se foi instalando.

È por demais evidente a incapacidade ou o propósito dos sucessivos governos de nos oferecerem uma coisa parecida com democracia que, por muito que o escondam, defrontar-se-ão hoje ou amanhã com a nudez da sua obra.

Pelos vistos somos um país onde pontificam as pequenas e médias empresas, responsáveis primeiras pelo essencial do nosso desenvolvimento económico.

Ano após ano, tem sido esta a postura e aposta dos governos, evidenciadas num permanente investimento político e financeiro, cujos resultados estão à vista – estamos de novo à beira da recessão -.

Perante esta evidência, o governo insiste na falácia e há que benzer com mais dinheiro e outros benefícios tão excelsos empresários a quem Portugal tanto deve, senão eles estão dispostos a afundar a economia até às grutas da escuridão.

Gente desta, habituada ao empreendorismo inovador e criador de riqueza que poucos almejam, fazem uso da permissividade de quem nos tem governado e declaram-se contra um aumento de 22 euros do salário mínimo acordado em Conselho permanente de concertação social (pelo que se vê parece mais o chá das tias).

Ou o governo acaba com o pagamento especial por conta, com o recebimento do IVA quando se factura a mercadoria, disponibiliza linhas de crédito bonificadas, ou eles não renovam os contratos com os seus trabalhadores e, segundo afirmam, o governo verá quantos se inscreverão nos centros para o subsídio de desemprego.

Há já muito tempo que o Banco de Portugal sabia de possíveis ilicitudes e irregularidades praticadas no BPN, no entanto, deixaram que os responsáveis por mais esta tragédia se pusessem ao fresco, quem sabe se com possíveis chorudas indemnizações, para então assumir as responsabilidades que lhe respeita.

Isaltino de Morais, Presidente da Câmara de Oeiras, resolveu distribuir a eito um parque de viaturas (cerca de 150) pelos mais variados trabalhadores da autarquia, livres de qualquer controlo quanto à sua utilização com o argumento de que estas viaturas, em qualquer lugar e a todo o momento, estão em serviço.

Fátima Felgueiras é condenada a três anos de cadeia, embora com a suspensão da pena e comporta-se de uma forma tão bizarra que mais parece ter sido absolvida e outros os condenados.

Serve tudo isto para vos dizer que, com tal ambiente de permissividade e de sucessivos conluios, com o mais descarado fartar vilanagem, uma justiça de interesses impávida e inoperante, o terreno torna-se propício à investida do generalato, que encontra no desprezível comportamento político o argumento que lhe basta para erguer a espada da ameaça e da chantagem.

Quem provoca e fomenta o aparecimento das ditaduras são sempre os regimes que se mostram fracos.

Os militares são normalmente insensíveis quanto a estados de alma e, como diz Loureiro dos Santos, são gente que têm armas na mão a quem, pelos vistos, nem o século XXI, lhes burila apetites ancestrais.

Prossegue uma espécie de democracia.