quarta-feira, outubro 22, 2008

UNS E OS OUTROS

Em recato ou no gozo de merecido interregno, adivinha-se o ar triste e apreensivo daqueles que, tendo feito o mal e a caramunha, se sentem constrangidos e injustiçados, pese lhes terem depositado em mãos milhões de euros a titulo indemnizatório, só porque se distraíram e puseram em causa os segredos do liberalismo mercantilista.
Sabem, no entanto, que nada é definitivo, bastando para sua salvaguarda um retiro conveniente, e, já agora, aproveitem o tempo livre para arquitectarem ideias sobre a forma mais simples e limpa de deitarem mão aos 20 mil milhões que os tutores dos portugueses já decidiram leiloar.
Claro que todos já engolimos essa ideia peregrina da confiança, bem como já sossegamos as passarinhas e afins, quanto à segurança dos depósitos bancários detidos pela classe média, média baixa e pobres.
Não adianta nem vale a pena o argumento de que qualquer gestor numa empresa portuguesa ganha trinta vezes mais que um qualquer trabalhador que nela consiga ter trabalho.
Os chamados pomposamente banqueiros deste País, rejubilam e acham medida apropriada e atempada quando se disponibilizam 20 mil milhões para restabelecer a dita confiança?... de quem?... , tanto mais que, apesar da vigarice global, da ganância e do roubo, não perdem uma oportunidade para sublinharem a dependência directa da verdadeira economia em razão da robustez e vitalidade da banca financeira.
Perante a suspeita e algum clamor, quanto a tanta generosidade sem contrapartidas, sabendo-se que quem paga é o contribuinte, permanentemente espoliado e ignorado, apressam-se os baldroqueiros das ilhas Caimão a insinuar que não haverá borlas para quem a ele recorrer. O filme chama-se “coabitação de interesses” com tema introdutório “politicamente correcto”.
Curioso é que para a constituição de um outro fundo, este destinado às famílias com dificuldades no pagamento das prestações das suas casas, só disse presente a Caixa Geral de Depósitos, todos os outros bancos estão calados que nem ratos.
Não tardará muito ouvirmos que a banca comercial nada tem a ver com o endividamento das famílias, cuja situação só acontece, porque os portugueses, irresponsavelmente, gastaram mais do que aquilo que podiam.
Perante esta politica estranha não ficaria bem a um qualquer governo se não instituísse o 13º. mês para o abono de família, até porque os portugueses estavam à espera deste sinal para procriarem desenfreadamente.
Claro que o dinheiro não sobra e, vai daí, há que rever em alta o preço dos automóveis e nada melhor do que fazer apelo a questões ambientais, logo, agravar a tributação dos carros a diesel, mantendo, naturalmente os combustíveis a preços de roubo de igreja.
A seguir e para além do aumento do custo do habitual cabaz de compras, surgirá o castigo para esses excomungados, uns que fumam e outros que bebem, descontado que já está o apoio aos toxicodependentes. Morram os viciados. Vivam os corruptos.
Já agora, sempre vos quero lembrar esta nova modalidade de cirurgias em ambulatório, que nos contemplará com um bónus, tal como, redução das taxas moderadoras e medicamentos gratuitos.
Julgo que para acompanhar a moda, deveria ser emitido um cartão que contabilizasse pontos, que nos habilitaria a uma segunda cirurgia (quem sabe?), esta como tentativa de debelar em definitivo os males de que padecem os pobres “coragem para viver”.
Carlos César nos Açores foi eleito com 20% dos votos dos açoreanos inscritos, também aqui e também ali, se a moda pega, um dia os pilares desta tragédia a que nos obrigam elegem-se a eles mesmos.
Espero ansiosamente.