SABER E ENSINAR
Confesso-vos que tenho uma particular admiração pela ministra de educação.
Pondo de parte os interesses, admito que legítimos para a corporação dos professores, a ministra da educação é artífice duma reforma com cuja utilidade o comum cidadão tem que estar de acordo.
Sem exigência, dificilmente poderemos fazer face ao insucesso escolar. Por análise simples, conclui-se, com suficiente grau de fiabilidade, que não pode ser só responsabilidade dos alunos o desencanto pela escola e o seu abandono.
Provavelmente a ministra acabará por ser sacrificada em favor da paz social, sem ser tido em conta que o ruído feito à volta da questão da avaliação, resulta de hábitos feitos de vícios, usados e abusados por docentes que, ao longo dos anos, nunca se preocuparam com os problemas dos alunos e das respectivas famílias.
Todos conhecemos bem demais as facilidades de que eram donos os então professores primários, agora ensino básico, no que a tempo de trabalho se refere, nomeadamente porque só trabalhavam meio dia, tinham três meses de férias de forma legal ou ilegal, metiam atestados a torto e a direito, chegando ao cúmulo de o fazerem por um ano inteiro como forma expedita para não porem os pés na terra onde foram colocados.
Dito isto, facilmente se infere que a questão da defesa dos interesses dos alunos só agora lhes ocorre.
Esta classe de professores, ao fim de 25 ou 30 anos de serviço, incluindo inúmeros atestados médicos, reformaram-se habilidosamente (ainda se reformam?), tirado que seja um suplemento (curso de última hora e sem qualquer préstimo para o ensino) com mais cerca de 500 euros/mês que acrescem à reformas devidas.
E dos professores do secundário muito há para dizer. Todos temos e conhecemos experiência de situações que tiram qualquer credibilidade ao argumento de que lutam por melhores condições de ensino, quando muitas vezes têm formação psicológica inadequada ou deficiente, ao ponto de segregarem e excluírem alunos, promovendo deliberadamente o insucesso e o abandono.
Dir-se-á que não são todos. Não, não são todos. Felizmente há muitos e bons professores, mas, os maus professores, mesmo em número menor, provocam um estrago tal que os bons não conseguem jamais remediar.
Verdadeiramente surrealista é a exigência do pagamento em horas extraordinárias do tempo gasto em aulas de substituição. As horas extraordinárias sempre foram aquelas que se fazem para além do horário normal de trabalho e nunca quando o trabalhador é chamado a fazer serviço dentro do horário normal e da mesma área de actividade.
Queixam-se os professores de que precisam de mais tempo para se dedicarem à preparação das aulas, para fazerem trabalhos vários que interessam à escola, etc.
Não precisarão de mais tempo para darem também aulas no privado?
Revelam-se também contra aquilo que designam como nomeação desta novel figura de director, recorrendo a analogias com outros tempos, com a qual eu concordo.
Porém, convirá que não esqueçamos que a maioria dos/as presidentes dos conselhos executivos das escolas, são hoje, consequência de uma nomeação encapotada.
A actual forma de eleição desta hierarquia escolar não é contestada, porque resulta dum conluio de que todos os agentes escolares tiram proveito. É o caciquismo a funcionar.
Mas pior que a exigência dos professores, é esta justiça que se diz independente, só porque anda de candeias às avessas com o governo, que dá provimento a tudo que seja providencia cautelar, tentando obstar a que o governo cumpra o programa que o fez vitorioso nas últimas eleições.
Já sei que prometeu muitas coisas e não cumpriu. Mas naquilo que prometeu e quer cumprir, espero sinceramente que o faça, mesmo contra esta conveniente independência daqueles que dizem fazer cumprir a justiça no nosso país.
As corporações funcionam
Como diz um conhecido, já te mudei as fraldas muitas vezes.
8 Comments:
A Educação infelizmente está pelas ruas da amargura.
Relativamente à figura do Director, não posso estar mais em desacordo com Ilídio dos Santos. Ao contrário do que V. Ex.cia afirma, o Director é que vai na realidade ser um Comissário Político a soldo do presidente da Câmara local e da Directora regional de educação do norte e do governo. Essa pseudo-reforma vai acabar com a eleição dos conselhos executivos por parte de professores e de pais (e aí concordo com Churchill quando diz que a democracia ainda é o pior dos sistemas à excepção de todos os outros) e vai caucionar situações muito perigosas do ponto de vista democrático. As Cãmaras vão passar a controlar as escolas, pois têm lá os seus cães de fila, a obedecer aos senhores autarcas e da cor do partido do pode. E aí inevitavelmente vai acabar a irrever~encia e o espírito crítico dentro das escolas. Ai de quem critique o Governo ou o Director executivo e as suas decisões. O mais certo é apanhar um processo disciplinar. Ou o senhor Ilídio ainda acredita que vai haver concursos públicos transparentes para esses lugares de director? Eu sinceramente acho que não e é bem provável que aqui na nossa terrinha aconteça uma coissa maravilhosa, se essa lei for avante. Augusto Soares, o conhecido dirigente local do PS, Deputado Municipal e ex. presidente do Agrupamento de escolas do Arco, que ainda recentemente se candidatou e perdeu, mesmo com o apoio explícito do autarca Joaquim barreto e do aparelho socialista local ( e perdeu porque a comunidade educativa do arco rejeitou uma escola controlada e manietada a partir da Câmara), esse senhor com esta nova lei, corre o risco de ganhar na secretaria, o que perdeu nas urnas. O senhor Ilídio como democrata que é, está de acordo com isso? Não me parece.
Amigo Ilídio. Sobre a luta dos professores por uma maior dignidade profissional ( fartos de levar pontapés e ser agredidos estão os professores) e isto porque os paizinhos deste país projectaram na escola a educação dos meninos e daí decidiram lavar as mãos, quando deveriam ser eles a educá-los, pois a escola por muito que se esforce, sozinha não o consegue fazer), apetece-me fazer um comentário ao artigo escrito por V. Ex.cia ( e não quero que veja nisto qualquer espécie de ofensa, pois posso estar em desacordo com as suas ideias mas respeito-as) O comentário é este: "Pimenta no cú dos outros para mim é refresco". Um abraço
"Sem exigência dificilmente poderemos fazer face ao insucesso escolar" diz o senhor Ilídio dos santos e eu estou de acordo. Mas essa exigência não tem sido implementada no nosso sisterma educativo pela actual Ministra senão vejamos:
O senhor Ilídio é produto de um sistema de ensino em que tinha que estudar para passar. Se tivesse mais de duas negativas chumbava. Pois hoje, senhor Ilídio, os alunos passam todos, pois a legislação está feita nesse sentido. O que é necessário é sucesso escolar para apresentar a Bruxelas e para que Bruxelas não feche a torneira dos fundos comunitários, para que os dinheiros para a formação profissional possam jorrar em municípios como cabeceiras, não com o fim de qualificar pessoas, mas tão somente obter dividendos políticos, em benefício do senhor barreto, com formandos profissionais. Hoje em dia há alunos que passam com 4 e 5 negativas, pois considera-se que a sua reprovação, apesar de o aluno nada saber e pouco se interessar, é prejududicial para o menino. Será isto exigência senhor Ilídio? Os alunos podem reprovar por faltas. Se no início do terceiro período o aluno se lembrar de não vir mais às aulas e ficar em casa, dantes reprovava por faltas. A legislação publicada pela nova ministra socialista, prevê que esse mesmo aluno calaceiro, irresponsável e preguiçoso, se quiser pode na penúltima semana de aula regressar à escola e ser submetido a uma prova de conhecimentos. Mesmo que reprove nessa prova, o aluno que já reprovou por faltas, pode se assim o quiser, regressar à escola, bastando para isso que o Conselho de Turma não se opionha ao seu regresso. Como sempre a batata quente fica nas mãos dos professores, os criminosos do sistema. Será isto exigência senhor Ilídio?
Mais se um seu filho ou sobrinho, tiver 16 anos e frequentar o 11º ano e decidir abandonar a meio do ano lectivo a escola, pode reingressar três meses depois, através de um famoso programa chamado novas oportunidades e fazer o 12º ano em 6 meses. Será isto exigência Senhor Ilídio? Eu não sei a que é que o senhor se refere quando fala que há uma reforma em curso no Ministério. As reformas mais visíveis são estas que eu lhe apontei e com as consequências que se antevêem. Tudo em nome do sucesso escolar. Uma verdeira mentira, é o que é!
Zé Alberto
Relevado o V. Exª., nunca afirmei que concordo com velha figura de director.
Disse, isso sim, que o que temos hoje não é muito diferente, pelas influências que aponta, escapando, por milagre, casos como o do Arco de Baúlhe.
Se outros não acontecem é porque alguém se põe a jeito...
Quando se permite que uma entidade estranha, como o presidente de câmara, condicione os destinos da escola, mesmo que sem legitimidade, é óbvio que, logo que a tenha é mais uma "lavoura".
É preciso não deixar que isso aconteça e, essa obrigação, é especialmente dos professores.
Não podemos nem devemos fazer de conta que está tudo bem e aparecer anualmente em festa na recepção ao professor.
Amigo Sousa Pereira
Começo por lhe dizer que não me ofenderá nunca, incomoda-me o V.Exª...
Concordo com a sua afirmação de que os pais querem que as escolas ensinem e eduquem.
As razões porque o fazem são, eventualmente, um ponto mais no nosso desacordo.
Quanto à "pimenta no cú dos outros" foi um tiro de pólvora seca.
Comecei a ser avaliado há cerca de trinta anos.
Conheço a preversidade do sistema, senti-a na pele.
Salvou-me sempre, como ainda hoje, o sentimento de elevada auto estima.
Apesar da adversidade, vi sempre a pimenta no cú dos outros, coisa que não acontece com os professores.
Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja.
Aos grandes causas que se têm colocado à enorme massa de portugueses indefesos, a tal pimenta no cu dos outros, tem passado literalmente ao lado dos professores.
Resumindo, é preciso lutar e, agora, toca também aos sempre indiferentes.
Anónimo (exigência)
As questões que aborda sobre exigências são miudezas.
O essencial nada tem a ver com os alunos que refere, esses, estão já excluidos.
Esse conjunto de facilidades que enumera não acontecem por acaso, esses tolerados ou repescados são os escravos de amanhã.
Não é desses seguramente de que estou a falar.
De resto, o dorsalç do meu escrito procura ir mais além.
Qd refere que as questões de exigências são miudezas, eu estou em desacordo consigo e passo a explicar. A exigência tem que começar na sala de aula é aí que começa o sucesso ou o insucesso, e o exemplo em termos de legislação e normativo legal, tem que vir de cima, ou seja de quem define e gere politicamente a educação neste país. As questões que eu coloquei não são tão "miúdas" assim, existem na realidade, são reais, por força, da legislação que entretanto foi aprovada pelo Governo Socialista. E se falamos em sucesso escolar temos que nos virar fundamentalmente para o aluno. Ou o senhor pensa o contrário?
Leis que permitem que o aluno não reprove por faltas, apesar de faltar continuamente, leis que permitem que os alunos passem com 4 e 5 negativas, leis que permitem que os alunos desrespeitem e até agridam os seus professores sem serem punidos, leis que permitem que o aluno do secundário desista e depois de três meses se inscreva nas Novas Oportunidades do facilitismo socialista, para concluir o 12 ano em seis meses, tudo isto é que é irresponsável Daqui a uns anos, à boa maneira portuguesa, vamos chegar à conclusão que alguma coisa correu mal e que ao invés de fomentarmos saber e uma cultura de responsabilidade e exigência nas nossas escolas, fomentamos ignorância. Mas é isto que me parece que o Governo quer. Entretanto continuaremos a "chular" os franceses e os Alemães", que devem estar fartos de financiar a nossa pseudo-qualificação e analfabetismo, que é patrocinada pelo Governo ao colocar na mão de autarcas a responsabilidade de entregar dinheiros públicos a mentecaptos, que depois votam neles e os mantêm no poder. Digo e reafirmo: a recente legislação portuguesa em termos de educação é uma mentira e um colossal embuste, que vai prejudicar gravemente o país a médio prazo. E no meio deste regabofe ( tudo feito em nome da liberdade de oportunidades), os professores são sempre os suspeitos do costume, porque são preguiçosos, não querem trabalhar e são milionários, porque recebem salários principescos. E como senão bastasse, enchem a conta bancária aos psiquiatras, porque são a classe ( e isto são dados oficiais e verídicos) que mais recorre ao apoio psiquiátrico. Sim, mas isso é perfeitamente normal, pois preferiram ser professores. Poderiam ter ido para trolhas ou para serventes, não teriam tantos problemas de cabeça.
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