quinta-feira, julho 19, 2007

A CONSTITUIÇÃO E A SAÚDE

Bom, como não é possível a um qualquer tiranete despedir-me em razão das minhas opiniões, resta-lhe o toque à laia de analfabeto funcional escusando-se ao cumprimento educado das pessoas e o gesto magnânimo e poderoso do lápis azul no protocolo.


Era minha intenção escrever sobre esse evento inócuo de cariz suburbano que foi o congresso da Associação Nacional de Municípios, acontecido recentemente no paraíso Açoreano.
Aguardará próxima oportunidade, sem demora naturalmente, mas por ordem à importância.

Por agora detenho-me num articulado de Manuel António Pina publicado no Jornal de Notícias do dia 20 de Junho de 2007.
Faço-o porque ao ler regularmente as considerações deste articulista no Jornal de Notícias, naturalmente aceites e conceituadas pela respectiva redacção, deixo-me elevar ao patamar daqueles a quem falsas modéstias não enquadram a personalidade nem o carácter.
É perante esta evidência dada à estampa num grande jornal nacional, que revejo contributos e denúncias por mim assumidos/as em tempo oportuno, cujo mérito ouso não recusar, apesar dos limites reais que reconheço à sua publicitação.
Mas o tempo, nesta como em outras matérias, tem-se encarregado de dar conteúdo e significado às reflexões que convosco tenho partilhado e que representam a única e mais gratificante forma de nos encontrarmos para a procura da verdadeira verdade solidária.
Recorrentemente tenho destacado a área da saúde para denunciar os atropelos aos direitos mais elementares dos portugueses, simbolizados em enormes sacrifícios da população mais carenciada e na próspera ascensão do negócio privado que, políticos institucionais e sem carácter nunca questionam, mascarados de anjos da solidariedade socialista.
Cercados pela falta de inteligência destes (i)responsáveis políticos, cujo único objectivo é o poder, forma última de adubação dos seus próprios umbigos e engenho à perseguição, somos enganados na volúpia de palavras decoradas que disfarçam mal as limitações da sua soberania intelectual.

“Depois dos fechos de urgências, maternidades e SAP, da redução das comparticipações nos medicamentos, a machadada final no SNS vem aí.
Sobre um relatório efectuado: Aí se conclui que o que a Constituição prescreve sobre o direito à saúde dos portugueses é, à semelhança de outros direitos sociais, letra morta para o actual PS (Partido Socialista).
Várias especialidades já desapareceram do SNS, como dentistas, oftalmologistas, ginecologia e cardiologia.
Prevê-se o fim da ADSE e demais subsistemas de saúde, o fim de isenção de taxas moderadoras, o fim da consideração em IRS de despesas com saúde, etc.

NÃO DEIXA DE SER IRÓNICO QUE SEJA UM GOVERNO PS O CANGALHEIRO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE. Fim de citação”

No mesmo jornal (dia 28), António Arnaut tece considerações à forma como um Governo do Partido Socialista avança rapidamente para a criação de um SNS para pobres, fazendo alterações que violam ostensivamente o texto constitucional e o seu ordenamento jurídico.
Afirmando-se indisponível para aceitar deste governo a implementação de medidas que nunca a direita conseguiu impor, António Arnaut considera que convive com um problema “ser de facto socialista”.
Quanto a mim António Arnaut não tem só um problema, tem dois, sendo que o segundo e o mais importante, é o facto de ele não querer sair do quadrado partidário, o sítio onde existe a mama.
As declarações feitas por estes dois cidadãos só pecam por tardias, quando é certo que o autor destas linhas há muito as denunciou.
Sofrendo orgulhosamente o mesmo problema de Arnaut, não aceitei todavia continuar a caucionar este partido que já não é socialista.
Chamo à liça a história do afastamento da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, não para discutir a questão em si por não ser relevante no contexto de sujidade em que toda esta gente se movimenta, nem tão pouco a nova escola de bufos, mas para manifestar a minha estranheza pelo facto de um ilustre deputado do circulo, instado a pronunciar-se sobre o assunto, ter tido um comentário único e deslumbrante: “não foram os deputados do Partido Socialista que mandaram o despacho do ministro à Lusa”.
É absolutamente nítida a necessidade de fazer crer aos seus pares que os deputados visados não pularam as linhas do quadrado, são bem comportados.
Bom, como não é possível a um qualquer tiranete despedir-me em razão das minhas opiniões, resta-lhe o toque à laia de analfabeto funcional escusando-se ao cumprimento educado das pessoas e o gesto magnânimo e poderoso do lápis azul no protocolo.