A PROCURA DA LUZ
Há vida para além do défice, dizia em tempos, não muito distantes, o Presidente da República.
Hoje, estamos perante uma realidade que nos leva a concluir que o tempo dos portugueses parou a par da incapacidade ou incompetência de quem nos governa.
Afinal, não há mesmo vida para além do défice.
Renovar a esperança foi a palavra de ordem do Partido Socialista na campanha eleitoral que o levaria ao governo com maioria absoluta.
Passadas as eleições, observado o resguardo necessário que, estrategicamente, antecede as más notícias, eis-nos perante a realidade; perdem e ganham os do costume.
Tratar com pinças a prometida revisão do Código do Trabalho e a Lei da Segurança Social, esquecer o referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez e não assumir a à Reforma do Sistema Político, são exemplos que não deslustram da opacidade dos governos anteriores.
Tenho presente e não esquecerei nunca a pressão que os políticos têm feito para manterem os seus escandalosos privilégios, mormente, a indigência intelectual e moral dos deputados do Partido Socialista.
Direitos adquiridos? A que título?
Justifica-se, imaginem só este despudor, que o défice que resultará da execução do orçamento de 2005 está para além de qualquer previsão feita até ao momento em que foi conhecido o relatório da comissão que o apurou.
É evidente que isto já não perturba a pacatez do cidadão português, habituado que está à exaustiva repetição da cena deste filme.
Portugal satisfaz-se a si próprio e, por obra de alguns, gira em circuito fechado.
As pessoas, essas, são agarradas ao alcatruz da nora e são já visíveis os sulcos cavados por um penoso caminhar em circulo.
O célebre choque fiscal anunciado por Durão Barroso, redundou no agravamento das condições de vida da população portuguesa, através do agravamento dos impostos indirectos como o IVA e do congelamento dos salários da função pública que, por arrastamento, condicionou toda a actividade laboral do país, agravando ainda mais o número de desempregados.
De uma chamada crise orçamental, passamos rapidamente para uma recessão económica.
As condições psicológicas básicas que sustentaram esta política, provocaram uma intencional degradação na auto estima dos portugueses, confrontando-os e amedrontando-os a todo o instante com a possibilidade de falência de Instituições que são, afinal, os pilares do estado de direito e da República.
Com nuances, mais de ordem espiritual do que de qualquer outra, o governo do Partido Socialista assenta a sua estratégia política nos mesmos pressupostos que o governo
anterior.
Não tenho uma visão fundamentalista das questões, recuso-me, no entanto, a aceitar que o pragmatismo que alguns invocam e de que outros se servem, sejam usados para fugirem à palavra juramentada.
Diz o governo que as medidas que anuncia quase diariamente, cujos efeitos na população eu apelido de terrorismo psicológico, são a única forma de por a economia a funcionar.
Entende-se assim que, continuar a degradar as condições de vida das pessoas, a aumentar o desemprego, a promover a adopção de salários baixos, as mais das vezes pagos longe do final de cada mês e a dar roda livre à exploração de quem trabalha, nomeadamente, através de despedimentos arbitrários, é impulsionar a economia?
Empertigam-se os homens da banca, resmungam os empresários, quando alguém, em jeito de brincadeira, porque estão a brincar não tenhamos dúvidas, eles é que mandam na política, lhes diz que é preciso contribuírem também para o esforço da (mentira) crise.
Lembro-me de ter escrito em tempos um artigo sobre "Os Nossos Ludgeros" que, para quem não esteja identificado, era na altura um dos patrões do empresariado e que teve a brilhante ideia de sugerir o despedimento de 150.000 funcionários públicos.
Admitamos por hipótese que até tinha razão!... permito-me, no entanto, perguntar o que fazer com a maioria dos empresários portugueses, sendo certo que o despedimento está fora de causa, por razões óbvias?...
A crise, essa mentira que usam de forma despudorada até ao assassinato total do carácter das pessoas, deve-se essencialmente à incompetência e falta de escrúpulos da maioria dos nossos empresários e a muitos daqueles a quem pagamos para nos governarem.
Fez 20 anos que assinaram o tratado de adesão à Comunidade.
Todos falaram no grande desenvolvimento que trouxe ao País.
E nós Portugueses? Quando sentiremos os efeitos deste milagre?
QUANDO A MENTIRA (CRISE) PASSAR... espero que, então, DE PÉ.
2005.06.12
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home