quarta-feira, janeiro 14, 2009

A VEZ DO CONTENTAMENTO

Nesta época do ano sucedem-se as festas, momentos ternurentos que, estranhamente, conseguem juntar o que um ano divide e castra, sempre sob a batuta daqueles que um sistema com mãos sujas catapulta para a galeria dos poderosos.
Recordo-me de um dia de Dezembro de 1963, momento da assumpção firme de um percurso que me escolheu.
Só com seis meses de obrigações e assalariado, início de uma atribulada mas reconfortante caminhada, ofertaram-me (empresa HICA) um cabaz de natal composto por dois quilos de batatas, um quilo de arroz, um quilo de açúcar e um quilo de bacalhau. Credo…,liminarmente rejeitei.
Foi o princípio dissimulado de uma custosa tolerância que se agudizou com o passar dos anos, perante ostensiva ausência nestes encontros do faz de conta.
Hoje como sempre, não fomos nem somos capazes de evoluir ao ritmo necessário que nos projectasse/e na vida, valorizando conceitos éticos e de dignidade.
O Boletim Informativo da nossa terra, anuncia-nos que a 21 de Dezembro terá lugar mais um destes untados encontros natalícios, momento próprio para mais uns quantos salamaleques a bem da inocuidade e do ámen a esta arrogante falta de responsabilidade política.
Quando o País se encontra à beira de uma hacatombe de rescaldo imprevisível e o governo subverte o espírito e letra da lei que reciclou (Robin dos Bosques), acabando de resto e como é seu hábito por subverter o preceito anunciado -roubando os pobres para dar aos ricos-, a mais iminente figura pública e política do concelho e não só (Presidente da Distrital do PS – Membro do Secretariado e da Comissão Nacional), limita-se a ser seguidor e a vergar-se perante este desvario, em nome de uma carreira política alicerçada no argumento da força em detrimento da força dos argumentos.
Estamos perante uma catástrofe no desemprego sem paralelo nem horizontes, sendo que a região do Minho sente já de forma dramática este flagelo.
Anuncia-nos o Primeiro Ministro que em 2009 as famílias terão um maior desafogo, mercê do abaixamento das taxas de juro, da redução da taxa de inflação e preços dos combustíveis mais baixos. Os resultados já os sabemos, basta esperar a confirmação.
Esta trindade de benefícios que são a recompensa de três anos malditos + um + outro…, em nome do controlo do défice, só são superados pelo expectável desenvolvimento económico do País, por força do milagre da multiplicação dos euros (milhões) que, roubados aos contribuintes, entram em força nos bolsos de quem corrompe e se corrompe.
Afinal, há dinheiro para tudo…, menos para quem dele necessita.
Sacrificaram-se os portugueses, mentindo-se-lhes sobre a necessidade de manter o equilíbrio do défice, e agora, não faltam milhões para dar a quem vive do proxenetismo especulativo.
Não basta sistematizar iniciativas que preencham calendário, urge começar a dar a cara e esclarecer os cidadãos sobre as razões de tão conveniente mutismo dos responsáveis políticos desta terra, sobre as politicas que marcam o destino deste País e, especialmente, sobre a indisfarçável mentira que tem sido a política deste governo, esmagando aos pés dos tiranos e tiranetes os princípios fundamentais do Partido Socialista.
É urgente conhecermos o que pensam sobre esta intrigante manipulação da opinião pública quanto à intervenção do Estado nos destinos do Banco Privado Português, para não falar no famigerado BPN (um saco de gatos de raças diversas e famintos).
É insultuoso, é obsceno, que se continue sem qualquer réstia de pudor a afirmar a necessidade de salvar este banco. Quem se protege?
Seria interessante que o senhor Presidente da Câmara, com o mesmo afã com que se eleva na companhia de ministros e secretários, nas visitas às obras do Centro de Emprego (que futuro?), variante A7 (Arco de Baúlhe -20 milhões, para quê?), palácio da justiça (o novo mapa judiciário justifica-o?), explique porque é que a Unidade de Saúde Familiar perdeu todas as virtualidades anunciadas para justificar o seu arranque, para morrer num dia de Inverno sem pompa nem responsos. O que falhou?... O estudo prévio das implicações?... Ou serão razões de índole mais peluda?
Julgo que é chegada a hora de sair do seu casulo dourado e vir sujar as mãos na lama em que se transformou este País. A responsabilidade também é sua.
E o Natal?... Pensemos nos bancos alimentares contra a fome e talvez alguns de nós ganhem uma nova consciência quando, perante o espelho, vislumbrarem outro eu e o outro.